Avós têm papel importante
na educação das crianças, mas não substituem os pais
RENATA
RODE
Colaboração para o UOL
Colaboração para o UOL
Esqueça a teoria de que os pais educam e os avós
estragam; isso atrapalha o desenvolvimento da criança
Seja por
necessidade ou escolha, avós estão cada vez mais presentes na educação dos
netos. Em alguns casos, a participação é constante e a responsabilidade sobre
eles é maior do que deveria. Auristela Temperani, 41 anos, supervisora
administrativa de São Paulo, é divorciada e tem três filhas. Transferida para o
Pará, deixou as meninas sob os cuidados da avó por três anos. "Na época,
elas tinham 11, 15 e 19 anos e a mudança gerou uma dose de rebeldia no começo.
Mas como eu já tinha passado por problemas com babás e empregadas, optei por
pedir ajuda à minha mãe e não me arrependo", diz.
Para
Blenda Marcelletti, terapeuta especializada em família, avós não foram feitos
para terem a responsabilidade da educação dos netos. Isso cabe aos pais. “É uma
tarefa intransferível quando os pais existem e gozam de boa saúde física e
mental. Entretanto, não é preciso ser radical, criando uma situação
desconfortável ou confusa”, explica. O primeiro erro, por exemplo, é achar que
a convivência com os avós pode atrapalhar o conceito de hierarquia. “A criança
precisa saber que qualquer adulto que a trate bem merece respeito e, muitas
vezes, obediência. Os pais devem explicar quais são as pessoas confiáveis e que
ficarão responsáveis, quando eles estiverem ausentes. Além disso, a convivência
dos netos com os avós traz uma nova experiência de vida e oferece aprendizado a
ambos", afirma a especialista.
Dicas para os avós*
Os avós
devem saber que não é tarefa deles serem pais;
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Sempre
que possível, contem para os netos como era a vida em outros tempos e como
eram seus pais na idade deles. É importante que os mais velhos contem as
histórias da família;
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Quando
tiverem dúvida do que fazer perguntem aos pais, principalmente se for algo de
muita relevância;
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Sempre
conte aos pais fatos importantes sobre as crianças;
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Mesmo
que as medidas tomadas pelos pais sejam severas ou permissivas demais, não os
desautorize. Opte pela conversa (longe dos netos);
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Não
permita qualquer tipo de desrespeito por parte dos netos e não tenha receio
de colocar limites. Isso pode ser feito de forma afetiva e firme;
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Se você
não pode ficar com os netos, diga. Não é obrigação dos avós cuidar deles;
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*consultoria:
Blenda Marcelletti
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Roseli Pires de Castro, psicopedagoga, diz que há, ainda, outra questão: o reflexo que a boa relação entre os pais e os avós causa nos filhos. "Há uma antiga teoria que diz que você pode saber se um homem e uma mulher serão bons pais pela maneira como lidam com seus genitores e como cada um viveu sua infância e adolescência. Portanto, demonstrar saúde nessa ligação só contribui para a educação das crianças", explica.
Todos os
especialistas concordam que o diálogo evita conflitos. Os pais devem estar
sempre em contato com os avós para deixar claro até onde eles podem ir.
"Muitos entregam seus filhos e deixam tudo por conta deles. Isso não
contribui para o equilíbrio das relações. O contrário também é válido: os avós
podem mostrar qual é o tamanho da sua disponibilidade, já que muitos têm suas
ocupações, projetos e amigos", diz Blenda.
O
psicólogo Alessandro Vianna acha o contato estreito entre avós e netos
positivo. O que o preocupa é a famosa frase: "pais educam e avós
deseducam". "É extremamente importante que os avós mantenham a mesma
linha de educação que os pais", diz. "O ideal é conversar com os avós
para explicar que eles também fazem parte da educação das crianças e devem ser
responsáveis. Essa instabilidade pode causar uma imensa confusão na cabeça da
criança e até fazer com que ela crie a falsa fantasia que os pais não a amam
como os avós."
O conflito entre gerações também é motivo de preocupação. Para Alessandro, é necessário considerar que tudo muda, assim como a forma de educar filhos. "Avós acreditam que sabem educar melhor do que os pais, mas esquecem que existem vários fatores que influenciam diretamente na conduta de uma criança que, pela circunstâncias atuais, os pais irão saber lidar melhor". Um exemplo: como avós conseguirão colocar limites nos netos em relação a Internet, se na época deles essa tecnologia não existia?
O conflito entre gerações também é motivo de preocupação. Para Alessandro, é necessário considerar que tudo muda, assim como a forma de educar filhos. "Avós acreditam que sabem educar melhor do que os pais, mas esquecem que existem vários fatores que influenciam diretamente na conduta de uma criança que, pela circunstâncias atuais, os pais irão saber lidar melhor". Um exemplo: como avós conseguirão colocar limites nos netos em relação a Internet, se na época deles essa tecnologia não existia?
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