Palmadas educam ou
traumatizam? Especialistas e pais divergem sobre o assunto
BÁRBARA
STEFANELLI
Da Redação
Da Redação
"No momento da raiva, pais podem perder o
controle e a palmada acaba virando uma pancada", diz psicóloga Luciana
Maria Caetano, autora do livro "É Possível Educar sem Palmadas?"
“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão”. É isso que prega o artigo 5º do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), aprovado em 1990.
No
entanto, apesar dos 21 anos da lei, os castigos corporais, e as tão
culturalmente difundidas palmadas, ainda fazem parte da realidade infantil
brasileira. Em 2010, em comemoração às duas décadas do estatuto, o
ex-presidente Lula enviou para o Congresso Nacional o projeto de lei 7.672/2010,
mais conhecido como a lei da palmada. Polêmico e já em vigor em países como
Alemanha, Dinamarca, Áustria e outros, o intento continua em trâmite no Brasil
e divide opiniões.
Povo fala: é possível educar sem palmadas? Veja
opiniões
Mas com todos os relatos de violência contra as crianças que ainda existem e até com a possibilidade da criação de uma nova lei que as proteja, a pergunta que fica é: tem como instruir sem agressão? Segundo a psicóloga Luciana Maria Caetano, autora do livro "É Possível Educar as Crianças Sem Palmadas?" (R$ 24,70, Paulinas) e professora da UEM (Universidade Estadual de Maringá), sim, tem como.
Veementemente
contra as palmadas, a pesquisadora das relações entre pais e filhos acredita
que a educação infantil é fruto de um processo demorado e ainda afirma que o
comportamento da família é mais eficaz do que uma palmada. "Ensinamos as
crianças muito mais com as nossas atitudes do que com palavras ou
palmadas", diz a especialista.
Para
Luciana, não existe um método que cure o problema de um dia para o outro.
"É preciso explicar e estabelecer regras que sejam cobradas diariamente.
Os pais têm a responsabilidade de ensinar o que é certo e errado para os
filhos. Infelizmente, muitos pais não sabem o que é certo e errado nem para eles.”
Psicóloga* lista consequências das agressões
físicas:
Criança
desenvolve raiva ou vergonha dos pais
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Relação
entre pais e filhos se distancia
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Criança
pensa que, como já apanhou, está livre para "aprontar" de novo
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Tapinhas
na mão de crianças muito pequenas podem gerar danos no desenvolvimento físico
delas
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Criança
pode se tornar um adulto agressivo e reproduzir o modelo violento com filhos
e mulher
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Pais
que usam a agressão tendem a formar filhos menos críticos
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Castigos
corporais ameaçam o bem-estar físico das crianças
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Crianças
podem adotar a violência na resolução de problemas
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No
momento da raiva, pais podem perder o controle e a palmada acaba virando uma
pancada. É nessas horas que acontecem as tragédias
|
Problemas
como depressão, ansiedade, sentimentos de desespero, infelicidade, baixa
autoestima, comportamentos antissociais e tendência ao uso e abuso de drogas
na adolescência
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*Fonte:
Luciana Maria Caetano
|
A
psicóloga e professora ainda afirma que muitos pais acham que "perdem
tempo" explicando para seus filhos como as coisas funcionam e,
impacientes, logo recorrem aos tapas. "Hoje em dia, os pais não têm mais
tempo para sentar com as crianças. No entanto, é muito mais construtivo
explicar para que servem as facas, os garfos, a tomada, por que não se bate no
irmão, do que sair agredindo. Isso tudo leva tempo, mas tem resultado."
Terapeuta
defende a palmada
Para a terapeuta infantil Denise Dias, autora do recém-lançado livro "Tapa na Bunda - Como Impor Limites e Estabelecer um Relacionamento Sadio com as Crianças em Tempos Politicamente Corretos" (R$ 27, Matrix), as palmadas podem ser usadas na educação das crianças, sim.
Para a terapeuta infantil Denise Dias, autora do recém-lançado livro "Tapa na Bunda - Como Impor Limites e Estabelecer um Relacionamento Sadio com as Crianças em Tempos Politicamente Corretos" (R$ 27, Matrix), as palmadas podem ser usadas na educação das crianças, sim.
Apesar de
fazer questão de deixar claro que não faz apologia à violência, a autora, que é
contra a aprovação da lei da palmada, diz que o método pode ser usado como
forma de punição. "Infrações mais graves, como xingar ou bater nos pais,
merecem punições mais sérias. No entanto, não existe um ‘tapômetro’, para medir
quando a criança merece uma palmada ou não.”
Para ela,
é essencial que os pais imponham autoridade e deem ordens claras aos filhos,
sem receio de usar palavras de ordem e dizer: "eu mando em você".
"Se uma criança derruba um copo de leite no chão ou faz pirraça na hora de
tomar banho e o pai parte para a agressão, antes de tentar conversar, aí o tapa
é banalizado. Mas há crianças que já ficaram de castigo, ficam provocando por
duas horas, e continua teimando em fazer malcriação. Ela está pedindo mais
contenção."
Segundo a
teoria de Denise, muitos pais acham uma gracinha quando os filhos fazem
escândalo no restaurante ou incomodam o almoço de outras famílias. E ainda há
pais que têm dificuldade em dizer não e vivem fazendo a vontade dos filhos. Por
causa disso, algumas crianças crescem e se tornam monstros, "que quebram o
braço de alguém quando escutam um não em um bar e desrespeitam autoridades ou
superiores."
Denise
acredita que a maioria das pessoas tem discernimento do que é um tapa ou uma
surra. "Muitos pais se negam a dar uma palmada, mas ficam gritando e xingando
a criança o dia inteiro, falando coisas violentas para a criança. Palmada
no bumbum arde, mas passa."
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